Moema Rebouças

Entrevista com a professora Moema Rebouças por Katiane Binda e Camila Morozesk

As alunas do curso de Artes Visuais UFES Katiane Binda e Camila Morozesk entrevistaram a Professora Dra. Moema Rebouças sobre suas pesquisas que envolveram a GAP. Esta entrevista foi feita via Google Meet em 27 de novembro de 2020. O conteúdo foi transcrito nas suas partes mais relevantes. A entrevista é parte das atividades da Disciplina de Ensino da Arte em Espaços Não Escolares, ministrada pela Profa. Adriana Magro no Curso de Licenciatura em Artes Visuais .

Formação da entrevistada Moema Lúcia Martins Rebouças: Possui graduação em Licenciatura em Desenho e Plástica pela Universidade Federal do Espírito Santo (1981), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (1995) , doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000) e Pós-Doutorado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. É professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo com atuação na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES. Participa do grupo de pesquisa do Centro de Pesquisas Sociossemióticas -CPS das instituições PUC/SP, USP e CNRS de Paris e é líder do grupo de pesquisa GEPEL /Cnpq. Integra o Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade no Núcleo de Educação Artística da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto-Portugal. Bolsista de produtividade do Cnpq (2012 a 2019).Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Plásticas, atuando principalmente nos seguintes temas: arte na educação, semiótica/ensino e estudos da linguagem e comunicação. 

Fale um pouco sobre sua trajetória na ufes. Como foi o seu ingresso na UFES, projetos, pesquisas e, especificamente pensando o ano de entrada até o ano de aposentadoria. 

R: “ Entrei na UFES em 89. Nessa época entrava-se na Universidade ainda através de concurso, porém, como auxiliar de ensino, eu ainda não tinha meu mestrado e doutorado. Fiz o meu mestrado na própria UFES e o doutorado na PUC São Paulo em Comunicação e Semiótica. O mestrado foi o que me fez iniciar meu percurso de pesquisadora. Em 2001 eu ingressei como pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação e, após me aposentar, continuei  trabalhando como voluntária nas orientações. Também comecei a ser pesquisadora no que a gente chama de “produtividade em pesquisa” do CNPQ e tive muitos projetos de pesquisa financiados pela FAPES, CAPES e CNPQ. O que integra o estudo da GAP, é o projeto de pesquisa para tese de doutorado [...], e o resgate das relações da Galeria de Arte e Pesquisa, ao ser fundada em 1976, com uma especificidade e singularidade muito forte porque não era somente uma galeria universitária, era uma galeria localizada no Centro da Cidade de Vitória, há 10 km do campus universitário ou seja, fora do campus da Ufes o que, por si só entra no foco para o exterior, para a comunidade, e de alguma forma para intervir nessa comunidade de Vitória em todo o projeto cultural e artístico que vinha se desenvolvendo naquela época. 

Tive muita sorte de ter um olhar para a própria instituição acadêmica que me formei, fui aluna do Centro de Artes em 1977, e ter vivido todo o processo e depois dar de presente ou deixar para as próximas gerações um pouco da memória do que foi e do que é esse espaço. Isso é o que há de mais importante.” 

Sobre o seu Doutorado em Semiótica, você poderia falar um pouco sobre ele?

R: “Quando eu concluí o mestrado, peguei para pesquisar duas prefeituras, a da Serra e a de Vitória. Na época o interesse era saber como era o ensino de artes nesses Sistemas Públicos Municipais e como esses professores viam e compreendiam esse Ensino de artes lá, a concepção de artes e de ensino. Um dos resultados dessa pesquisa de mestrado que foi feita no início da década de 90 e concluída em 1994 era de que havia um desejo mas não uma formação daquele professorado com a questão do trabalho dos artistas e da arte dentro das escolas [...] naquela época os professores eram muito pautados nas técnicas e na expressividade do aluno, mas pouco pautado na questão dos conteúdos da arte, dos artistas e da imagens. Como esse foi o resultado oriundo da pesquisa que eu entrevistei todos os professores das duas Redes, ou seja, uma pesquisa macro, com questionários, e como esse resultado apontava para essa falta. No meu doutorado eu me direcionei para isso, estudar mais a fundo a arte em uma linha teórica que me permita trabalhar mais com a arte e sua leitura e como se procede essas leituras. E por isso que fui para PUC São Paulo em um programa de Comunicação em Semiótica e lá minha orientadora já tinha concordado em parte com o projeto que eu já havia levado de Jogos Artísticos que era uma pesquisa que eu vinha desenvolvendo logo após o mestrado junto a Prefeitura de Vitória. [...] E a orientadora reverteu, pois segundo ela você não pode propor jogos se você não entende as questões teórica das leituras de como proceder e daí então eu me voltei para o estudo mais teórico de cinco artistas e esse material da Tese está publicado “O Discurso Modernista da Pintura”, e assim eu desenvolvi essa Tese e estou envolvida com a PUC São Paulo até hoje com pesquisas na área de Semiótica Greimasiana, não só de estudos de imagens mais também de materiais pedagógicos. Isso abriu meu caminho como pesquisadora para sempre.[...] eu acho que a semiótica nos coloca com uma posição no mundo de compreensão do outro e dos discursos.” 

Seminário capixaba sobre ensino da arte, que iniciativa foi essa? Como foi? Fale um pouco sobre essa experiência? 

R: “Quando eu entrei na UFES em 89, eu e a professora/coordenadora da Educação a Distância, Maria Auxiliadora de Carvalho Couraça, a “Dora”, fomos colegas de Mestrado e nos inquietava muito observar que naquela ocasião não havia nenhum evento em nosso Estado direcionado aos professores de artes, então nós iniciamos primeiro de forma bem pequena [...] com a colaboração dos dois Centros de Educação e Artes e pensando naquelas pessoas a nível nacional que discutiam o que era de mais inovador no Ensino de Arte . Eram duas professoras que envolviam, de início, poucos alunos e que tinham uma vontade enorme de receber os visitantes com uma recepção calorosa. De início o evento foi feito todos os anos, depois fomos o adequando à medida que conseguimos ter uma equipe maior. Mas foi difícil em alguns períodos pela falta de concursos, não se conseguia criar um grupo de trabalho consistente, à medida que foram abrindo concursos e foram entrando outros profissionais para área de ensino de artes, a coisa foi melhorando. Então o seminário  foi crescendo. Mas carecia de análise para arrecadação de verbas e financiamento, Houve anos em que conseguimos fazer a nível internacional com gente de Portugal e da Espanha, isso formou intercâmbios e abriu a possibilidade de estudos daqui do Centro de Artes para outros locais. Por exemplo, eu fui fazer meu Pós Doutorado em Portugal, então tem muito esse intercâmbio, esse trânsito do conhecimento que o evento nos proporciona. Dessa forma, com esse grupo formado no decorrer destes anos e depois até da minha aposentadoria [..] eu acho que vai durar alguns anos mais  e creio que será muito bom que isso ocorra. [...] Pois não tinha nenhum evento destinado para área de artes e nosso objetivo principal era questionar que tipo de pesquisa está se fazendo aí fora? O que os estudiosos estão pesquisando na esfera da educação e do ensino de artes? Como podemos debater junto aos nossos professores? Então nossa clientela principal sempre foi o professor que estava atuando na Rede Básica e na Educação Infantil e sempre tivemos esse público   como maior resposta e atendimento a essa chamada. Houve  uma época em que ofertamos Oficinas porque nem a rede pública nem a particular ofertavam isso a eles, era uma oportunidade de  encontros e trocas de experiências  e era, acima de tudo, uma forma de nos colocar no mapa do ensino da arte no Brasil. Os eventos ocorriam sempre na UFES mas em locais diferenciados, de início foram nas próprias salas do centro de artes, depois devido ao grande número de pessoas foi transferido para o Centro de Educação que tinha um auditório maior, já fizemos até no Cine Metrópolis, e amamos fazer o seminário lá, pois o local nos permitia uma atimosfera mais gostasa. Quando cresceu demais fomos para o teatro da UFES.” 

Destaque para as pesquisas com o acervo de arte da Ufes 

R: "A pesquisa publicada no GEPEL que ainda está em andamento “O LUGAR DO DISCURSO NA ARTE E NA DOCÊNCIA: ENTRELAÇAMENTOS E ARTICULAÇÕES TECIDAS EM CONTEXTOS EDUCATIVOS”. [...] a gente vai percebendo que o acervo que foi criado a partir dessa iniciativa da professora Gerusa em 1976 que lutou junto ao IPHAN para conseguir uma sessão de capela centenária, a Santa Luzia no Centro de Vitória uma das mais antigas do Brasil e a Capela na Cidade Alta das construções mais antigas, então você tem ali um património histórico maravilhoso, fantástico, que é essa capela e ela (Gerusa) consegue fazer a sessão para a universidade para funcionar essa galeria. Mesmo sendo pequena, com basicamente 60 m de espaço para realização das exposições, ela faz um regimento que na época foi que permitiu a formação dessa coleção de Artes na UFES com esse acervo numeroso e de grande importância [...] que parece ser um dos maiores acervos de arte moderna que se tem dentro do Espírito Santo. Nesse regulamento da professora Gerusa que para fazer exposição na Galeria de Arte Pesquisa esse artista tinha que fazer a doação de uma obra, e a partir , primordialmente, dessa doação se constituiu esse acervo grande que temos na Universidade Federal do Espírito Santo. se você pensar a galeria de arte em 1976, fez com trouxesse uma notoriedade muito grande a Cidade de Vitória. [..] a partir da primeira exposição que foi feita com obras dos professores do Centro de Artes que vinham produzindo a muito tempo, sendo desta forma coletiva, já a segunda e terceira exposição eram pessoas de renome nacional que se interessavam pelo projeto, por essa singularidade de estar expondo dentro de uma capela transformada em galeria, então isso eu acho que torna essa história nossa e a história da GAP diferente de qualquer galeria universitária que temos no Brasil. E ela então funcionou ali de 1976 até 1994, passou por várias Coordenações da Gerusa e depois pela coordenação da Teresa Norma e todas tendo uma ousadia para época muito grande, porque apesar de ter suporte da FUNARTE, elas conseguiam mobilizar um número de artistas importantes muito bom para expor aqui,[...] e era um relação de confiança e afetividade. Os artistas vinham não só para expor, mas para dar palestras, cursos, então isso modificou, daí o levantamento e a importância da pesquisa que como espaço de galeria pode movimentar um curso e uma cidade.[...] mobilizando muito a vida cultural e artística da cidade de Vitória.” 

Por ser uma capela, as obras passaram por algum tipo de critério ou avaliação? 

R: “De jeito nenhum [...} nós estamos falando de 1976, é uma época de liberdade, de quebra de tabus. A preocupação do IPHAN e da Universidade era não estragar o patrimônio, mantendo pisos e paredes intactas, então as exposições eram desenvolvidas em painéis com estruturas para que a estrutura centenária (Capela) não fosse agredida com as intervenções que ali pudessem ocorrer.” 

Você conseguiria destacar alguma pesquisa que dialogue com sua área de formação? 

R: “TODAS! Uma pesquisa sempre puxa a outra, por que sempre fica uma indagação. Por exemplo, quando eu acabei a pesquisa do discurso modernista, depois de três a quatro anos ficamos no Art BR onde acompanhamos a inserção junto aos professores que gerou muita coisa. Depois disso veio o A cidade que mora em mim, ai foi um olhar mais para dentro, momento em que a Adriana participou ativamente e que tem o seu lugar quando a gente pensa em voltar esse olhar para a cidade de Vitória, para essa constituição tão diversa que é ter o mangue, o continente…  ter a escola que fica lá no morro, e cada uma dessas tem as suas peculiaridades, e o olhar da criança sobre esse espaço como ele é importante, que me encantam, então eu adoro essa pesquisa. Depois veio as interdiscursividades, quando comecei a voltar o meu olhar para o acervo da UFES,  analisamos muitas obras e foi criado um museu aberto que rendeu uns 10 documentários com resgate dos depoimentos da Gerusa, da Teresa Norma sobre a Gap [...] o importante da pesquisa é sempre gerar produtos que circulam, e esse dez documentários em breve vão estar circulando, mas se entrarem no GEPEL vão ver a quantidade de artigos que se gerou e que de alguma forma estão circulando. O que percebo é  que uma pesquisa gera a outra, por que você quer dar respostas para ele ai você vai produzindo e depois volta, então é uma coisa sem fim.” 

Você tem algum destaque na sua trajetória na história da GAP?

R: “Tudo foi muito enriquecedor, eu acho bacana eu ter conseguido viver uma época do CNPQ e da CAPES muito rica, muito vibrante, e essa vibração que vivemos não foi uma conquista fácil, principalmente no setor da arte, eu acho que tanto Ana Mae, quanto outros profissionais que lutaram para que arte tivesse um espaço dentro da ciências no Brasil, tem um mérito enorme. Conseguir ser pesquisadora do CNPQ, conseguir ter acesso aos financiamentos da CAPES, conseguir avaliar tantos trabalhos e acompanhar tantas pesquisas por esse Brasil afora como eu acompanhei. O tempo que eu fiquei em Portugal foi pequeno mas também me abriu portas e eu acho que abriu portas para outras pessoas que querem realizar intercâmbio, é sempre tudo muito enriquecedor. Eu acho que não consigo eleger uma coisa principal [...] a única coisa que poderíamos destacar é a continuidade da luta por esse aspecto que é da valorização da ciência e do ensino público no Brasil, para que mais portas sejam abertas para o conhecimento.  Acho que essa é a grande luta e precisamos ter isso como meta.” 

Já expôs na GAP? Como foi? Quando foi? 

R: “Já. [...] quando eu era estudante, durante algum tempo eu fiz pesquisa na área de gravura, xilogravura. E aí eu fiz algumas exposições por esse Brasil afora e na GAP também, mas era dentro de projetos de coletivos, não individuais. Tive que fazer uma opção depois, não dava conta de ser artista e professora. Andei fazendo algumas xilos esse ano, na pandemia, fazendo alguma coisa, um desafio mas sem uma pretensão de arte aplicada que pudesse ser feita em estamparia em cartazes ou em alguma outra coisa [...] mas estou aberta para um monte de coisas, estou bem viva!” 

Qual a sua participação na GAP? 

R: “ Sou pesquisadora da GAP. Eu quero resgatar a memória e história da GAP de 1976 até 94." 

Já fez proposições para a GAP? 

R: "Não.” 

Entrevista feita via Google Meet em 27 de novembro de 2020. Participantes: alunas do curso de Artes Visuais UFES Katiane Binda, Camila Morozesk e Professora Dr. (a) Moema Rebouças. O conteúdo foi transcrito nas suas partes mais relevantes.

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