Ocupa 2014
A exposição coletiva Ocupa 2014 apresenta os trabalhos de artistas do Centro de Artes da UFES
Lourdes Alves dos Santos, Ana Cláudia de Sena Firmino, Amanda Amaral, Rick Rodrigues, Deborah Moreira e Edivania Martins, André Arçari, Raynner P. Freitas, Renato Ren, Rafael Resende, Filipe Porto, Jéssyca Locateli, Sandro Novaes, João Fraga, Camila Silva
Sobre os Artistas
O trabalho de Lourdes Alves dos Santos, utiliza dados biográficos. Nomeações que Santos relata que recebeu em variados lugares em que trabalhou, por pessoas em cargos de chefia. Apesar de ter um nome, estas pessoas com as quais trabalhou, decidiram chamá-la de forma diferente. A partir dessa experiência a artista fabricou esses documentos de registro como ‘novos nascimentos’. Estes registros possuem os nomes: Néa, Emilia, Graça Margareth, Lea. No entanto, são nomes, que Santos não escolheu, ela apenas conformou-se com as posições de poder implícitos nas hieraquias das situações. Cada nominação força uma nova realidade e identidade sobre a artista.
Ana Cláudia de Sena Firmino apresenta dois desenhos compostos de grafite e nanquim. O desenho em grafite é parecido com uma estrutura de cristais, sobrepondo formas geométricas. O desenho de nanquim parece uma estrutura orgânica, celular e rizomática sobreposta a primeira. Inspirados nas idéias de Deleuze e Guattari (1980), os desenhos instauraram um jogo criativo entre estruturas geométricas e de organicidade, em que a idéia ganha uma dimensão poética.
Amanda Amaral apresenta um vídeo que registra espaços baldios na cidade de Vitória. Através da câmera, passeamos em construções abandonadas, e a sonoridade que acompanha essa filmagem permite-nos escutar o andar de quem supostamente teria filmado - na medida em que há uma colagem do som nas imagens, uma edição. A sonoridade, que é parte importante do vídeo, relata as coisas imaginadas como vividas. O prédio abandonado já abrigara residentes, pessoas que ali viveram. O som simula, portanto, um registro do passado, pois apresenta as coisas e a vida para além daquele resquício de edificação.
Rick Rodrigues apresenta um trabalho que explora relações entre o bidimensional e o objeto em escala reduzida em uma série de desenhos. Tratam-se de desenhos em que a relação com a gravidade ganha nova dimensão. Escadas muito frágeis conectam os elementos no espaço do desenho permitindo fluir os sonhos do artista.
Deborah Moreira e Edivania Martins apresentam na exposição uma armadilha para os sentidos. A primeira leitura nos conduz para uma sala de aula, com uma fileira de cadeiras sobre as quais encontramos textos de um capítulo sobre a história do surrealismo de Julio Carlo Argan. Porém, este mesmo capítulo fora reescrito pelas artistas sob uma perspectiva feminista, em que, artistas mulheres ganham destaque na cena artística daquele momento histórico.
André Arçari apresenta uma mesa, sobre a qual encontramos uma grande variedade de objetos e materiais: sal grosso e fino, pedras, embalagens, fitas, cacos de louça , vidro, plástico, desenhos, garrafas, fotos, catálogos, etc. O artista cria uma ordem para esses elementos que remetem a idéia de coleção / arquivo, pela estratégia obsessiva da organização. O branco, nesse caso, parece remeter ao limite entre visível e o invisível. Podemos pensar como referência, no artista Marcel Broodthaers e a idéia de ‘atrator oculto’ que havia em suas obras – caso do Departamento das Aguias. Broodthaers apresentava neste departamento ou sessão, sua coleção de símbolos de águia em diversos objetos que não possuíam nada em comum, construindo assim um sentido para a coleção.
No caso do trabalho de Arçari, é possível reconhecer este ‘atrator oculto’ pela ausência de cor dos objetos, pela brancura dos mesmos. Diversos objetos do mundo ordenados no suposto cubo branco (o espaço moderno da arte), postos sobre uma mesa tal qual uma pesquisa arqueológica. Objetos prontos para serem explorados em outra espécie de ordem na contemporaneidade.
Aquele que vê a obra do Raynner P. Freitas, vai encontrar um vestígio sutil de seu corpo, que fora enterrado dentro de uma caixa de areia repleta de plantas. O artista apresentou ao vivo, uma performance na qual apenas parte de seu peito e cabeça ficaram de fora. Freitas permaneceu de olhos fechados por cerca de uma hora, com o corpo coberto de areia dentro desta caixa.
A caixa, por sua vez, tem elementos vegetais que foram trazidos da praia e que circundam sua cabeça.
Renato Ren, apresenta um trabalho de grande dimensão grafitado sobre a parede com uma frase escrita: “aqui dentro não é grafiti”. A imagem parece conter três figuras em sequência. Esta imagem fala de um contexto de violência e poder, sobretudo a do espaço da arte. A segunda figura parece ser atravessada por uma bala, e a terceira decapitada, com a parte da cabeça sobre seu pé. Ao mesmo tempo, com a frase, a obra questiona o poder de validação de qualquer ato pela arte.
Rafael Resende apresenta duas pinturas que juntamente com sistema de som e uma cadeira, convida o espectador a fruição da obra. O artista faz uma relação da musica com a imagem ou pintura, transferindo para o espectador uma sensação de espaço de ateliê, ou a algum lugar fora do espaço da arte, aquele em que está exibido a pintura. O visitante, primeiro tem contato com a pintura, mas essa relação ganha uma outra dimensão espacial quando o hadfone é posto nos ouvidos para a música ser escutada.
Filipe Porto apresenta uma instalação, composta de quadros pintados e emoldurados, papéis pregados na parede em que a pintura aquarelada ganha uma continuação sobre a mesma. Sobre a parede encontra-se desenhado um sistema de coordenadas, linhas retas e fios, e uma bolsa contendo folhas de samambaia. Os temas se repetem dentro e fora dos quadros, sendo eles: animais, plantas, esquemas anatômicos, e ainda vestígios de uma escrita impressa ao inverso, uma espécie de código do artista. A obra parece se relacionar com a ideia de ‘gabinete de curiosidades’ ou de ‘arte como um código secreto’.
Jéssyca Locateli apresenta quatro desenhos que simulam um espaço arquitetônico. Sua geometria passa por variadas transformações. Estes espaços sem uma função destinada se situam entre o projeto e a projeção de algo que não pode ser edificado. Os espaços retratados parecem funcionar como indicação de que outros desdobramentos do espaço são possíveis.
Sandro Novaes apresenta um relevo feito com tiras de fitas com uma gama de tons de cinza. As variadas direções destas fitas ou linhas projetam planos. A obra é dividida em interseções, pois forma áreas vazias entre os variados planos. O jogo proposto pelo artista acaba desestabilizando a visão daquele que vê, tornado essa geometria um tipo de área ou lugar de instabilidade.
João Fraga insere uma curadoria dentro da curadoria, quando propõem um ambiente no qual os visitantes podem folhear livros de artistas colecionados pelo artista. Em outro trabalho, Fraga transfere a imagem de Herzog em um código de números, revelando cálculos, ou construções das imagens históricas do Brasil.
Camila Silva apresenta três objetos/esculturas fundidos em parafina colocados sobre prateleiras. Em frente aos objetos a artista expõe vídeos em que os mesmos são manipulados, mas sem a real possibilidade de uso na prática cotidiana. Criando tensão entre cheio e vazio, entre uso e impossibilidade do mesmo; estes objetos inoperantes quando filmados, relatam sobre o que faz com que um objeto e sua função passem a se submeter ao ato do artista, quando transformado em obra de arte. Os sons dos objetos nos vídeos (furadeira em ação, o gelo que cai no copo com água e o Yakult que não pode ser consumido), parecem conter o resquício da função que fora programada para os objetos. Este trabalho parece ser pela repetição em looping; se não uma ironia, a prática frustrante sobre o inacabável tema: limite entre arte e vida.