Entrevista com Alexandre Marin
Como você se apresenta?
Alexandre Marin: Eu tenho aquela coisa, de ficar meio assim “ah, artista, artista…”, mas eu tenho colocado artista plástico porque acho importante falar disso e falar dessa formação da universidade.
Comente sobre sua trajetória enquanto artista e estudante de Artes.
AM: Eu tenho aquele lance de, muita gente entra no curso de artes e fala “ah, eu desde pequeno desenhava, eu gostava disso e tal”… então eu sempre gostei muito dessa parada de estar desenhando, de estar com coisas que envolviam criatividade. Comecei a tocar, experimentar fazer som com violão e guitarra primeiro, alguns anos antes de entrar na universidade. Sempre tive esse lado de gostar da parada assim, mas eu não ia fazer artes na faculdade, na verdade minha primeira ideia era fazer Geografia ou História, só que aí deu um rolo aqui em casa e eu acabei tentando fazer arquitetura. No desenrolar desse enrolo acabei indo para Arquitetura. Fiz um pouquinho, passei por algumas outras coisas antes de entrar na universidade, mas no caminho da universidade eu fiz Arquitetura em uma outra universidade particular aqui de Vitória, e no meio desse curso eu entrei no curso de Artes, então eu comecei a fazer os dois juntos. Só que deu um ou dois semestres depois e eu larguei Arquitetura e fiquei só em Artes. Aí fiz o bacharelado de Artes, comecei em 2015 e saí em 2019. Esse foi o caminho na academia. Mas, na prática, eu sempre, como falei, gostei de desenhar bastante e foi entrando a música e, já no primeiro período, eu comecei a misturar todas as matérias e comecei a experimentar com tudo. Eu entrei no desenho e saí fazendo de tudo um pouco, é até um pouco do que eu falo quando tem essas conversas sobre o curso de Artes, sobre a prática de artes, eu acho que as matérias mais importantes que tem no curso são Multimeios e Composição, que definem o curso, que são o coração do curso. Porque eu acho que não tem como a gente não ser Multimeios e pensar em Composição, em tudo que a gente faz. E mesmo para quem faz, sei lá, pintura, você está mexendo com multimeios, com muita coisa, você está compondo. Eu acho que mais enrolei do que falei o que é o meu lance. De tudo um pouquinho. Vídeo, ação, assemblage, pintura, desenho, corpo,espaço, movimentar coisas no espaço.
Conte sobre a sua história no grupo Implantação.
AM: Implantação surgiu no final de 2020. A gente começou a se reunir, não lembro se quem deu a ideia foi a Renata ou o Didico, e começou a juntar um grupo de estudos. Estudo assim, um grupo de trocar ideias de paradas de arte e pensar a arte como potencialmente um projeto, para a gente fazer alguma coisa prática mesmo. E desse grupo, algumas pessoas, foram seis pessoas, a gente se juntou para fazer um primeiro projeto e nós, desse grupo de estudos, botamos o nome Implantação. Então a partir desse grupo de estudos que era o Vitor Monteiro, eu, Renata, Didico, Rosana e Ariane (que estava com a gente nesse primeiro lance que formou o implantação, e tinha mais gente), fomos nós seis. E fizemos o primeiro projeto que mandamos para a Secult como residência em regência. A gente já se conhecia e a gente quis se juntar para fazer alguma coisa. Foi pensando nisso, tendo esse primeiro projeto, que a gente foi pensando e entendendo, não era nem elaborando, entendendo essa nossa pegada, esse cerne, mote. Até entra também como um subtítulo do grupo implantação: “Poética Política Natural", que mexe, inevitavelmente, com essas três áreas. Didico foi meu orientador na graduação, nas Artes Plásticas. Rosana foi minha professora na graduação e minha co-orientadora e, agora na graduação da licenciatura, ela é minha orientadora também. E, para além de ser orientador, a gente foi formando uma relação de amizade, de trabalhar junto também, porque eu, Renata e Didico, a gente trabalhava junto no Arte COMVIDA, que era um projeto para a gente montar exposições de arte, a maioria de pintura, em lugares fora do circuito tradicional, em bares e tal. A Renata, a Denise da GAP e eu, a gente montava tudo e Didico estava sempre junto também. E daí a gente já tinha uma relação de trabalhar junto, montar coisa e tal, a Rosana, além da orientação, tomou frente da Galeria. 2018/2 eu estava como bolsista da GAP e foi quando começou o COMVIDA também, aí a gente organizou uma feira em colaboração com a Galeria, ali na cantina de Artes abandonada. Foi a primeira feira que a gente trabalhou junto na real, eu, Denise e Renata. Eu estava falando disso porque era a Rosana que estava meio que coordenando o projeto da Dada Galeria do cemuni 2 e eu fiquei de voluntário com ela, então além disso a gente também trabalhava junto montando exposição e organizando ali na Dada. O Ronaldinho conheci só de ter conversado algumas vezes, e a Amanda eu conheço que ela é do mesmo grupo de capoeira que eu e também do cemuni, de coisas das artes…
Como você enxerga esse espaço da Galeria dentro da Universidade, principalmente enquanto aluno que frequenta esse lugar nos últimos anos? Como tem transitado nele?
AM: A GAP para mim foi um lugar que eu habitei muito durante minha primeira graduação e é um lugar muito importante pro curso de Artes e o curso de Artes tem que tomar conta desse lugar e não pode perder esse lugar, porque é um espaço que os alunos têm para colocar para fora numa escala maior ali dentro da Universidade, as experimentações, as propostas, os trabalhos e as ideias, os encontros, trocar, entrar, frequentar aquele lugar. Não é só nem quem está expondo, mas você conhece o colega que está expondo, vai lá, olha, troca, é um lugar muito importante porque pensando em tamanho e nas possibilidades desse espaço, cara, de repente é o melhor espaço que tem no Espírito Santo. A Homero Massena teve edital e tal, mas o espaço da GAP é melhor que o da Homero, eu acho. É um espaço muito, muito bom para você trabalhar ali dentro. E a Universidade tinha que valorizar isso como um todo porque fica jogado por conta do Centro de Artes e devia divulgar, sabe? Eu penso que pode ser melhor aproveitado e mais divulgado, no sentido de chamar o público de fora da Universidade e ter maior vazão para quem é de fora, tanto que essa exposição traz um cara que é de fora da universidade, que provoca esse estranhamento também. Além da própria proposta da residência, mas desse estranhamento da linguagem e da pessoa do Ronaldinho também. Se a gente só se fechar para o que é formatado e acadêmico, a gente está perdido porque a gente fica falando com a gente mesmo, não sai dali, não fala com mais ninguém. É um espaço muito f*da, mas que a gente tem que aproveitar para conseguir falar para fora, não falar só para dentro. Eu sinto que é ali que o curso de Artes tem para fazer isso, para dar possibilidade pros alunos fazerem isso, terem uma escala grande de repercussão maior do que eles fazem. Porque a Dada é tipo uma paixão, porque é ali dentro do cemuni, mas quando você coloca na GAP, você tem esse espaço que tem um potencial para isso tudo que eu falei, mas que não acontece tanto dessa forma ainda. E eu acho que com esse projeto novo e essa gestão nova, tem tudo para crescer esse lance, nesse sentido.
Comente um pouco sobre suas ações na Residência.
AM: Eu tenho colocado palavra na parede, é isso. É um lance justamente de um trabalho que é coletivo e ele se assume coletivo e não tem jeito de não ser coletivo, mesmo que a gente não queira. E não só da gente que está pintando, do espaço, do Centro de Artes, de tudo, de todo mundo, do que a gente viu lá fora para trazer para dentro, esse lance de coautoria, conforme da outra vez lá no bate-papo de coexistência, coautoria e composição, eu acho que é independente da gente querer, porque se eu estou compondo alguma coisa, já estou falando com alguma coisa, então é autoria minha mais a do que eu estou trazendo junto, sacou? Não só no material, mas na ideia também, então ali aquele lance da Galeria estar pintada e todo mundo estar pintando e passando por cima da palavra de todo mundo e tá beleza, porque passa por cima mesmo, a gente se atravessa, é isso de a gente estar ali assumindo que está acompanhando, que as coisas estão se somando. É um exercício também da gente não ter esse lance de aparecer no sentido de estrela, de estrelato, não se destacar mais que o outro, mas junto, até porque às vezes uma palavra que eu coloco complementa a do outro, fala com a do outro, que passa por cima, que passa por baixo. Então eu estou só pintando parede.
O que dessa Residência será levado com você daqui pra frente?
AM: Esse lance da gente, dentro da convivência e desse exercício de estar fazendo essa parada, assumir posições das coisas e ver possibilidades nisso tudo. Não só isso, mas como parte da UFES, da universidade, do meio acadêmico, do Centro de Artes e como eu quero ver esse Centro de Artes voando, sabe? Eu gosto muito desse lugar e eu acho que é uma exposição, para essa abertura do centro agora do presencial de novo, é meio que mostrar uma cara para quatro gerações de estudantes de Artes, entrar e ver que “olha, pode ser assim!”. Tanto na parede, quanto no texto, na poética, aquilo lá é texto, é poesia também. Aquilo lá está dentro da academia, então aquilo é um texto acadêmico também. E acho que todas essas possibilidades de ser, de fazer, dentro de um Centro de Artes, que é de Arte. Não precisa ter tanta trava assim num Centro de Artes. E não é para ser só isso, não é contra texto de qualquer forma de formatação, mas é que pode também. Não é uma coisa ditatorial, mas pode também. E essa coisa de passar por cima, é aceitar que pode fazer isso também, no sentido de que não é só o meu, é o de todo mundo, então vamos conversar.
O que você espera deixar como marca na GAP?
AM: Eu acho que são essas coisas que eu falei, eu tenho ficado pensando mais é sobre isso do Centro de Artes e sobre essa galera que vai entrar. Eu não sei como vai ser, ainda vai acontecer isso, mas a impressão do que se pode no centro de artes. E dali pra frente, como eu estava falando, ter contato também com as coisas de fora da UFES também, porque a Galeria tem potencial de ter vazão para isso. Não digo só no trabalho para fora da UFES, não nesse sentido, mas no sentido da UFES poder ter mais abertura, tirar a diferença da Galeria para a UFES, da arte e vida, mas algumas impressões nesse sentido para a galera que vai entrar, para o pessoal não ficar travado. Porque acontece muita trava durante o curso de Artes, de sensação de impossibilidade, que não pode fazer, que está errado isso, que está errado aquilo, mas eu acho que é essa primeira impressão, tanto do impacto da imagem da Galeria ocupada, como esse poder fazer, poder viver e poder compor junto.
Mapa cultural: Mapa Cultural do Espírito Santo - Alexandre Marin Rocha - Mapa Cultural ES
Entrevista realizada em 05/04/2022
Fotografia por Renata Apolinário