DAVISUAIS 2018 - Disrupturas
Vivemos em contínua disrupção, desmoronamento e derruimento. Colapsos que parecem atravessar-nos como lâminas que cortam a pele. (Dis)rupturas que se dão ora por forças, ora por delicadezas, emergidas dos intermeios dos desejos dos corpos e das almas. Brotadas nos jardins das resistências, como voz, vela e vento que se lançam aos horizontes desconhecidos do mar.
As obras dos 25 artistas se dividem em três eixos curatoriais: Memórias, Identidades e Sentidos. Nas Memórias, a artista Kamilla Pombs, oferece uma leitura vertiginosa e abismal da vida; Larissa Pereira compartilha de uma andança em derivas a lugar-algum; Iony Ming propõe um jogo participativo de fragmentos temporais; Vânia Vica tensiona as relações de poderes enlutando-as com a crueza da verdade; Gabriel Barros habita um desenho de delicadezas e imprecisões para falar do que é frágil.
No eixo Identidades, Arthur Meirelles instala um corpo-mobiliário que escapa ao silêncio. Felipe Lacerda costura as identidades pessoais para falar de um corpo-coletivo; Karoline Rodrigues denuncia as formas de segregação do sujeito; Daysa Vaz indaga sobre o consumo da beleza e suas ditaduras, Amanda Lobos constrói paisagens fantásticas que fabulam a realidade; Sofia Selvátice explode o gesto pictórico atuando na palavra-imagem do corpo; Isis transita entre linguagens propondo um novo corpo feminino. Piêtra fala das opressões ao corpo feminino; Thais Delogo discute a relação do cotidiano na performance social para falar do que é supérfluo na vida; Natalia Farias utiliza-se da meta-crítica ao emudecer os censuradores do corpo; Rayma Antunes evidencia e valoriza as diferenças humanas. O coletivo “Le Mabije” poetiza a imagem e o sentido do corpo e da alma; Kenia Alves evidencia a eroticidade no que aparentemente é pueril, enquanto Ariane Piñeiro reflete sobre o papel político e social do feminino no mundo.
Em Sentidos, Khalil Rodor toma o tempo e a passagem como motes de sua poesia; Kamila Bodevan discorre sobre o desconforto ambiental e a natureza, Giulia Bravo performa a cidade e trás ao seu corpo um fragmento natural; Natan Dias, coleta memórias sensoriais que são divididas com o público; Jefferson Sarmento toma a fragmentação do tempo e do espaço pela fotografia-instante, enquanto a dupla Danieli Borgoni e Bresiana Saldanha convidam a experiência sensorial, física e fenomenológica.
Disruptir é assim, uma forma de se construir poeticamente; sol a sol, lua a lua, por entre claros e escuros, o corpo do artista tomba aos descontentamentos do mundo, e nas ruínas dessa velha casa, as palavras são como mobílias de solidão, que silenciosamente ocupam os vazios das liturgias da morte, que sufocam a dor ruindo os desenganos putrefados de desimportâncias. É preciso, portanto, transgredir, resistir e “disruptir”.
Curadoria: Denise Cesar