Hipóteses Voláteis
Algumas hipóteses para uma exposição
∑: Hipótese Volátil exibe proposições artísticas de Luciana Ohira e Sergio Bonilha agenciadas pelos aeromodelos F1D: pequenos e delicados aviões.
∑∑: Hipótese Volátil procura refletir sobre a construção artesanal dos aeromodelos F1D e o possível fracasso do seu voo: + Se, por um lado, a produção dos aeromodelos tem um alto grau de complexidade, por outro, seu feitio não tem o propósito utilitário de fazê-los funcionar. Busca-se viver o processo e libertarse do medo do erro. ++ Diante da condição do indivíduo atravessado pelo capitalismo contemporâneo, a exposição procura discutir a louvação extremada e meritocrática do vencedor.
∑∑∑: Hipótese Volátil convoca a organização coletiva meditativa para que o voo seja possível: + Os aeromodelos são capazes de voar em locais sem deslocamento de ar. Ou seja, demandam a colaboração dos presentes em um acordo comum pois qualquer alteração no ambiente pode influenciar negativamente o voo. ++ A necessidade de tal combinação aponta para o nível de dependência que um indivíduo tem em relação ao outro. Luciana e Sergio procuram chamar a atenção para a necessidade de considerar-se a interdependência, acentuando o espírito de confiança.
∑∑∑∑: Hipótese Volátil convida ao deslumbre de um voo lentíssimo: + De acordo com os artistas, a exposição parte da percepção do voo dos aeromodelos F1D para perscrutar “um sublime que a aceleração cotidiana soterra”, buscando “formular hipóteses sobre o fenômeno desacelerante que a anti-performance desse voo” pode gerar. ++ Em oposição a experiência espetacular, a exposição se organiza na dimensão da vivência, nas conversas entre públicos, entre públicos e mediadores e entre públicos e artistas. Sob uma perspectiva relacional, a mostra não se restringe a contemplação dos objetos, ela acontece nos encontros, nos acordos coletivos e nos acasos que ocorrem a partir deles.
∑∑∑∑∑: “A Hipótese Volátil é a da vida desfazendo-se do que a aprisiona, da inscrição dos poderes diversos sobre o corpo, sobre o sujeito vivo. Hipótese da alegria de pensar sem submissão a qualquer poder constituído, seja este religioso, político, moral ou teórico. Às vezes é no extremo que se pode descobrir-se como virtualidade e imanência. Na mais frágil existência se insinua uma estratégia de resistência” –, fabulam Luciana e Sergio.
Ananda Carvalho
Curadora e Professora (DAV-UFES)