Frágil, Fina Pele da Civilização
Frágil, Fina Pele da Civilização
Artistas:
Alanus University (Alemanha): Bianka Mieskes, Karin Humberg, Katharina Haupt, Robin Hengesbach, Qunyuan Wang.
HSN (Noruega): Cecilie Nagel Bergheim.
IFCE (Brasil): Ispaide Idilécio.
UFES (Brasil): Yiftah Peled, M. Constantino, Ana Carolina Schmidel, Diego Contreras Novoa, Alexandre Marin, Geovanni Lima, Max Leandro, Natanael de Souza, Carla Désirée, Felipe Martins, Elvys Chaves, Tiago Sobreiro, Regina Serapião, Marilene de Jesus, Patrick Trujillo, Jéssica Sampaio, Renato Ren.
Cooperação: Bianka Mieskes, Alanus University of Arts and Social Sciences (Alemanha) e Yiftah Peled (UFES)
A exposição coletiva Frágil, Fina Pele da Civilização proposta para a Galeria de Arte e Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (GAP/UFES) tem o desejo de promover um diálogo com a recente crise política e social que afetou o estado do Espírito Santo.
Durante os 23 dias de paralisação da polícia militar em fevereiro de 2017, que reivindicava melhores condições de trabalho, o índice de homicídios saltou para 199 pessoas, quatro vezes a média estadual do mesmo período do ano anterior. As duras imagens dos corpos amontoados e ensacados nos corredores do Departamento Médico Legal revelaram a vulnerável pele negra.
Nos primeiros seis dias de paralisação, a capital do estado parou junto a muitas outras cidades. Fecharam escolas, universidades, comércio. A insegurança cotidiana da periferia foi vivenciada também pela classe média nas zonas nobres, transformando o estado em uma gigantesca prisão domiciliar.
A dura realidade da insegurança rompeu as barreiras das comunidades pobres e a capital ficou sitiada sob a ameaça da violência pulverizada. Civis se envolveram em linchamentos fazendo justiça com as próprias mãos, além de realizar saques a estabelecimentos comerciais, lembrando cenas ficcionais de um colapso ético.
A festa do carnaval ignorou a marcha fúnebre que ecoava das periferias. E ainda que desfalcado pelo medo, o desfile oficial das escolas de samba ocorreu no meio ao motim, assegurado por outro cortejo amedrontador: o das tropas de exército armadas com fuzis e caminhões tanque. Esse desfile tétrico trouxe para poucos a segurança e para outros os fantasmas inconvenientes da ditadura militar.
Para a antropóloga Jacqueline Muniz, a ideia do "quanto pior, melhor" favoreceu um governo silencioso, sem plano de contingência e sem disponibilidade para o diálogo apoiado pela mídia de massa que isolou o Estado capixaba recorrentemente silenciado pela história.
Sob o toque de recolher e a reticência de uma política autoritária baseada no arroxo fiscal, o Espírito Santo se transformou em uma terra sem lei, (des)coberta pela fina e frágil pele da civilização.
Acabada a crise, não se declarou nem um dia de luto estadual. Os mortos foram varridos rapidamente da memória, adicionados a brutal amnésia histórica brasileira.
Em 1928, a ativista da causa negra Mary Bonner escreveu a peça de teatro ”A flor púrpura” que denuncia os rostos e cabelos angelicais dos brancos que dançavam eretos – algumas vezes com a “dignidade de homens”, outras vezes com a “sinuosidades de cobras”.
Para Bonner, segui-los poderia levar a um descontrole referindo-se a esses “astutos dançarinos sobre a fina pele da civilização” que pode ser rompida a qualquer momento, revelando a violência e o ódio.
A exposição é um exercício experimental para refletir poeticamente sobre esses acontecimentos e questiona como a arte se contamina pela insanidade humana quando atravessa os poros dessa frágil epiderme cultural.
Yiftah Peled e Elaine de Azevedo
Grupo Dissoa
Confira também os vídeos registros:
abertura da exposição Frágil, Fina Pele da Civilização
documentação da exposição Frágil, Fina Pele da Civilização