Arte e Corpo
A exposição partiu do diálogo entre dois contextos e modelos de organização ou expressão social; Arte e Ciência. Os trabalhos de arte apresentados nesta exposição investigaram pontos de contato e diferenciação ou até dicotomia que estes dois campos de conhecimento proporcionam quando aproximados. Nesse sentido, a universidade, local da exposição, desempenha o papel de permitir o debate entre esses campos de complexidades.
Ao mesmo tempo, a ideia educacional estava implícita pelas intervenções de display das obras de arte com relação ao display do material do corpo humano (desde bancadas para microscópio até suportes para apresentação dos órgãos). Estas duas formas expográficas, contextualizavam e provocavam abordagens e possibilidades de estudos do corpo. A mostra morfológica científica sobre o corpo humano, permitiu o olhar para a sua estrutura. Esse olhar que fragmenta o corpo, o entende como um objeto universal, comum a todos os homo sapiens.
A arte contemporânea não tem um objetivo claro como a ciência, nela encontram-se ambigüidades, mais perguntas do que respostas, porque permite “irracionalidades”. Do ponto de vista individuais, como também universais, as ambiguidades com relação ao problema do corpo na sociedade, foi definida pelo lema genial num contexto feminista pela obra da Barbara Kruger: “Seu corpo é um campo de Batalha”. Os limites sobre a liberdade e sobre seu uso, mesmo no século XXI estão longe de serem resolvidos e ainda permanecem como fonte de conflitos. Basta mencionar a volta da circuncisão feminina pelo Estado Islâmico, a violência, execuções sumárias de homossexuais no Iran e no Brasil, a obrigação de segregação entre homens e mulheres em espaços públicos promovido pelos judeus ortodoxos, o rígido controle sobre o corpo dos setores conservadores da sociedade, a liberação de cenas de violência extrema para o público infantil em jogos eletrônicos, os assassinatos e ou chacinas em escolas públicas. O vasto uso da sexualidade como ferramentas da mídia para fins lucrativos, principalmente instrumentado pelo corpo da mulher.
Ao mesmo tempo a manipulação do corpo chega a dissensões antes imagináveis, como pelas possibilidades de mudança do sexo. O nosso destino biológico como já definiu Freud não é mais válido. O novo ser pós humano (Jefry Dietch) permite a manipulação genética, a substituição de partes do corpo por partes artificialmente construídas. A seleção e definição precisa do tipo de filho que se pretende ter por controle genético, relata o quanto o homem tomou a natureza em suas mãos. Junto a isto apresenta-se cada vez mais a precariedade do nosso corpo frente os colapsos ambientais. Os resultados porém estão por vir, cabe ao campo reflexivo adensar sobre tais condições. Resta saber como a arte lida com esse complexo. Nessa exposição foi possível então defrontar o modelo científico com elementos emocionais e perceptivos, de gênero, e do equilíbrio precário.
Rubens Mano